Notícias

Bem vindo ao site de contabilidade da MAF Assessoria Contábil

Área do Cliente

Área do administrador

Liderança Feminina Avança no Brasil e Redefine Sucesso de Empresas

Não faltam exemplos emblemáticos em grandes companhias de como a mulher respeitada no ambiente corporativo garante melhores resultados para os negócios

Os números ainda estão abaixo da paridade, mas a presença feminina em cargos de liderança está crescendo no Brasil. Mulheres seguem conquistando assentos nas diretorias das empresas, sendo promovidas a CEO e ocupando também os conselhos de administração, em um movimento que, além de ampliar a diversidade no ambiente corporativo, estimula a criatividade e a inovação, impactando positivamente os resultados. “Os benefícios de um ambiente de trabalho mais diverso e inclusivo são enormes, tanto para os colaboradores quanto para o negócio como um todo, porque a diversidade traz melhores resultados”, afirma a advogada Liliana Caldeira, presidente da Sou Segura, entidade que promove a equidade de gênero no mundo dos negócios.

Liliana avalia que a oferta de posições de liderança para mulheres tem mostrado alguns avanços, mas ainda enfrenta desafios relevantes, tanto no Brasil quanto no mundo. “Quando se trata de ascender a posições de liderança, é possível observar que persistem as barreiras invisíveis na trajetória das mulheres no mercado de trabalho, provocando uma assimetria entre os gêneros que se acentua ao longo da trajetória de vida da mulher, impactando sua remuneração e aposentadoria.”

Essas barreiras invisíveis incluem estereótipos de gênero, discriminação, falta de exemplos de outras mulheres líderes para estimular, pouca flexibilidade no trabalho para conciliá-lo com a vida pessoal, diferenças salariais e questões emocionais – entre elas, a autoconfiança. Para promover a diversidade, cada vez mais empresas desenvolvem programas inclusivos voltados para a equidade entre homens e mulheres, abordando esses pontos.

“Temos a ambição global de que as mulheres ocupem 50% dos cargos de liderança sênior até 2030. Hoje, globalmente, temos 41,5% de mulheres em posições de liderança, com o Brasil avançando fortemente nesta agenda e registrando números ainda mais expressivos”, comenta Luciana Batista, primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da Coca-Cola Brasil e Cone Sul.

Além dos benefícios tradicionais, como licença-maternidade de seis meses e auxílio-creche, a Coca-Cola disponibiliza sala de lactação e licença especial para tratamentos de fertilização. Também está estimulando a diversidade entre os seus parceiros com o programa “Coca-Cola dá um gás no seu negócio”, responsável pela capacitação e pelo apoio ao negócio de milhares de mulheres empreendedoras em todo o Brasil e Cone Sul. “Mulheres enfrentam estereótipos de gênero diariamente, e a pressão é ainda maior em cargos de liderança.

Segundo a ONU Mulheres, as mulheres poderiam aumentar seus rendimentos em até 76% se a disparidade de gênero fosse eliminada”, diz Luciana. “Acredito firmemente que desempenho e resultados financeiros podem caminhar de mãos dadas com impacto positivo – na verdade, um reforça o outro.”

Para Raquel Reis, CEO da SulAmérica, o ponto de partida para seguir aumentando o protagonismo das mulheres é garantir que elas tenham oportunidades reais para estarem onde quiserem e onde se sentirem felizes. “A posição de liderança é importante e desafiadora, mas não é o único sinônimo de sucesso. Muitas mulheres ocupam outras funções por diferentes razões, e o essencial é que essa escolha seja feita com liberdade, sem barreiras visíveis ou invisíveis que limitem o crescimento profissional”, comenta.

Em 2024, 66,9% dos méritos e promoções na seguradora foram destinados a mulheres, refletindo a competência que elas têm em suas funções. “Acreditamos que uma organização mais plural se conecta melhor com seus clientes e parceiros, permitindo um atendimento mais eficiente e empático às diversas necessidades do nosso público. Por isso, investimos constantemente no desenvolvimento de lideranças femininas e na construção de um ambiente inclusivo, onde todos tenham oportunidades reais de crescimento”, declara Raquel, ressaltando que 67% dos funcionários da empresa são mulheres, sendo 53,5% em cargos de média liderança e 39% na alta liderança.

Empresas com liderança feminina
Há três anos, o Grupo Boticário atingiu o marco de 56% de mulheres ocupando cargos de liderança. Na empresa, as mulheres representam mais de 60% do quadro total de colaboradores e 70% da equipe de Pesquisa, Desenvolvimento e Qualidade, composta por cientistas que lideram avanços importantes no setor de beleza. A atuação do grupo nas questões de gênero foi responsável por um movimento de grande impacto socioeconômico em Camaçari, na Bahia.

Em 2011, o Grupo Boticário instalou na região o Polo da Beleza de Camaçari, cidade até então com grande protagonismo masculino por conta do polo petroquímico. A chegada da fábrica abriu oportunidade de emprego e qualificação para centenas de mulheres, contribuindo para a geração de renda e fomentando a inserção feminina no mercado de trabalho.

Primeira mulher a assumir a posição de CEO da Bayer Consumer Health no Brasil, Cristina Hegg considera que a atitude inclusiva é estratégica para os negócios. “Para inovar, colocar o cliente no centro e encontrar soluções para os desafios do nosso tempo, é imprescindível ter um time diverso, com experiências e visões distintas. Nós, mulheres, somos parte significativa disso.”

Ela ressalta, porém, que a promoção da diversidade e da equidade é um compromisso compartilhado. “Enquanto os colaboradores devem buscar seu desenvolvimento, as empresas – e suas lideranças – têm a responsabilidade de eliminar barreiras, garantir equidade e criar um ambiente onde todos possam prosperar. Como líder, vejo meu papel não apenas como alguém que reforça essa cultura, mas como alguém que atua ativamente para acelerar essa mudança”, diz.

A jornada de diversidade na Bayer está estruturada em cinco grandes frentes, cada uma representada por um grupo de afinidade. O GROW (Growing Representation & Opportunities for Women) é o que promove e apoia iniciativas nos temas de desenvolvimento e empoderamento da mulher, somando esforços para a evolução da representatividade feminina em todos os níveis da organização. Aproximadamente 50% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres no negócio de Consumer Health, do qual Cristina é presidente.

A Natura atingiu a paridade de gênero em cargos de liderança na América Latina em 2023, com 50,5% de mulheres ocupando posições de diretoria e vice-presidência. Além disso, em um setor estratégico para a companhia, o de Pesquisa e Desenvolvimento, o índice de mulheres na liderança chegou a 75%. O caminho para alcançar esses resultados envolveu a implementação de diretrizes claras, como a Política de Valorização da Diversidade, lançada em 2016, e a incorporação da diversidade como pilar estratégico da empresa.

A companhia realiza auditorias internas para monitorar se há disparidades em promoções e progressões de carreira e garante que pelo menos 50% dos finalistas nos processos seletivos sejam mulheres, de forma a manter um equilíbrio sustentável nos diferentes níveis da organização. Para a Natura, a presença de mulheres em cargos estratégicos tem efeito multiplicador: quando elas ocupam posições de liderança, abrem portas para que outras também possam crescer, impactando positivamente a cultura organizacional como um todo.

Mulheres na tecnologia
A presença feminina é destaque até em setores tradicionalmente dominados pelos homens, como o de tecnologia. A Microsoft Brasil, por exemplo, alcançou um marco significativo: mais de 70% do time executivo é composto por mulheres. A empresa oferece programas de desenvolvimento de carreira, workshops e treinamentos que capacitam as mulheres a assumirem posições de liderança e a se destacarem em suas áreas de atuação. Esses programas incluem desde cursos básicos até certificações avançadas, promovendo a inclusão de mulheres em áreas de STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática).

A Microsoft Brasil assinou os “Princípios de Empoderamento das Mulheres” da ONU Mulheres, reforçando seu compromisso com a igualdade de gênero. Desde 2016, a empresa também implementou globalmente a política de equidade salarial, garantindo que mulheres e homens recebam salários iguais para funções equivalentes.

“Eu sou a personificação do contraponto do setor no qual estou inserida: quando pensamos em mercado financeiro, a imagem que naturalmente vem à mente das pessoas é a de um homem, branco e mais velho; eu sou uma mulher, de aparência jovem e pele retinta”, observa Fernanda Ribeiro, CEO e cofundadora da fintech Conta Black. “Isso acaba me trazendo ônus – muito mais, inclusive – e bônus. Eu, como uma boa otimista, gosto de enxergar as coisas a partir da perspectiva do copo meio cheio, como uma personagem que vai levar novas perspectivas ao que já está posto. Mas obviamente não posso ignorar os ônus desse processo, como, por exemplo, ter que ‘provar’ muito mais do que os outros.”

Conselheiras em ação
Responsáveis por assegurar que as empresas sejam geridas de acordo com os interesses dos acionistas e outras partes interessadas, os conselhos de administração também estão ampliando a presença feminina em suas reuniões. Na Natura, por exemplo, a equidade de gênero na governança é um tema prioritário, e a empresa atua para garantir que a inclusão feminina aconteça de forma estruturada e sustentável, inclusive com assentos estratégicos no conselho.

Sediado nos Estados Unidos, o conselho de administração da Microsoft, composto por membros independentes que desempenham funções de supervisão e governança, também conta com a participação de mulheres. No Grupo Boticário, o conselho conta atualmente com quatro mulheres entre seus 11 integrantes, reforçando a diversidade em um ambiente de tomada de decisão. O órgão é responsável por avaliar e recomendar ações relacionadas à estratégia da empresa, bem como aos resultados econômicos, reputacionais e de ESG.

“A inclusão feminina nos conselhos de administração enriquece as discussões com perspectivas diversas e complementares”, avalia Camila Colpo, presidente do conselho de administração da Boa Safra, uma das maiores empresas de sementes do Brasil. “Considero um motor para a inovação e a tomada de decisões mais equilibradas. A presença feminina tende a promover uma abordagem mais colaborativa e uma sensibilidade acentuada para as necessidades de diferentes stakeholders. Essa diversidade de pensamentos e experiências contribui para soluções mais criativas e eficazes, fortalecendo a resiliência e adaptabilidade da organização frente aos desafios do mercado.”

A médica oncologista baiana Clarissa Mathias é a primeira brasileira a integrar o conselho da ASCO (Sociedade Americana de Oncologia Clínica) e acumula ainda um assento no conselho da Oncoclínicas. Ela entende que sua contribuição nesses conselhos vem da visão abrangente da medicina que desenvolveu ao longo de sua carreira. “Uma abordagem holística transforma o ambiente corporativo em um espaço mais colaborativo, inovador e orientado para o paciente. Esse tipo de mudança pode ter efeitos duradouros no desempenho da organização, impactando não apenas os resultados financeiros, mas também a qualidade do atendimento e a experiência do paciente.”

Segundo Jandaraci Araújo, uma das cofundadoras do Conselheira 101 – programa que visa à inclusão de mulheres negras e indígenas em conselhos de administração, consultivos e comitês –, o setor de serviços tem se destacado positivamente nesse aspecto, especialmente quando se observa a presença feminina em bancos, instituições financeiras e empresas de saneamento. “Esse protagonismo pode ser atribuído aos consistentes investimentos em programas de diversidade e inclusão, além da influência significativa das regulamentações estabelecidas pela CVM e pela B3, que têm estimulado ativamente a diversidade em posições de liderança”, afirma. Criado em 2020, o Conselheira 101 já capacitou 150 lideranças, e 42% das participantes ingressaram em conselhos.